sexta-feira, 23 de abril de 2021

A LENDA DO CHOCALHO


 Ouça a lenda no podcast: A Lenda do Chocalho

 Era uma vez, uma cobra cascavel que morava no meio da floresta. Diferente das demais serpentes, a Dona Cascavel, como gostava de ser chamada, era conhecida pelo seu chocalho que ficava na ponta da sua cauda. 

Quando a Dona Cascavel estava brava, ela balançava a sua cauda, agitando o chocalho que alertava a bicharada: 

- Eita! Hoje a Dona Cascavel está irritada. – Disse o macaco. – Cuidado pessoal, pois com o mau humor da Dona Cascavel ninguém pode. 

- E por que será que Dona Cascavel está de mau humor? – Perguntou a Coruja. 

Acontece que a Dona Cascavel gosta de tirar uma soneca no meio da tarde, para a noite estar descansada e caçar comida. Eis que naquele dia, enquanto ela dormia debaixo de um tronco velho no meio da mata, o seu cochilo foi interrompido por dois índios que se sentaram em cima do tronco para conversar. 

Contrariada, a Dona Cascavel preparou o bote para afugentar os dois índios que atrapalharam o seu descanso, mas o assunto da conversa deles era tão interessante que fez a Dona Cascavel desarmar o bote para escutar a fofoca.

 - Peri, o filho do cacique, está apaixonado pela Rani, a filha do pajé. – Disse um dos índios. – Mas mesmo sabendo que os dois estão apaixonados um pelo outro, o pajé só aceita o casamento se Peri provar a sua coragem oferecendo um chocalho de cascavel como presente para Rani. 

Esta fofoca deixou a Dona Cascavel pasma com a possibilidade do seu chocalho virar um presente de casamento. E para piorar a sua situação, a Dona Cascavel era a única cascavel presente naquela região, já que o seu mau humor afugentou os seus parentes para bem longe dali. 

- Estou encrencada! – Respondeu a Dona Cascavel para a Coruja. – O filho do cacique quer presentear a filha do pajé com um chocalho de cascavel e acontece que a única cascavel morando nessa mata sou eu. 

- Lamentável Dona Cascavel, lamentável! – Desabafou a coruja. – As suas únicas opções são fugir ou se esconder. O filho do cacique é um dos melhores guerreiros da tribo. A senhora está mesmo bem encrencada. 

- Me ajudem! – pediu a Dona Cascavel – Não quero fugir desta mata, preciso da ajuda de vocês para me esconder do filho do cacique. 

A coruja e o macaco, concordaram em ajudar a Dona Cascavel a se esconder. A convidaram para morar no alto da árvore, junto com eles, pois seria um local pouco provável para o filho do cacique a procurar. Porém, acostumada a viver rastejando pelo chão, a Dona Cascavel não se deu bem com a nova casa. 

- Já que a Dona Cascavel não consegue morar conosco no alto da árvore, o jeito É montar um esquema de vigilância. Vou combinar com os demais macacos e avisamos você, quando o filho do cacique aparecer na mata, para te caçar. – disse o macaco para a Dona Cascavel. 

Satisfeita com A vigilância dos macacos, a Dona Cascavel ficou mais calma com a situação, porém não demorou muito para que Peri, o filho do cacique, começasse a procurá-la pela mata. 

Avisada pelos gritos dos macacos, a Dona Cascavel vinha conseguindo se esquivar do filho cacique, mas essa caçada já estava a deixando cansada. A Dona Cascavel não via hora de o jovem índio desistir do seu chocalho e procurar outra maneira de provar a sua coragem ao futuro sogro. 

Mas não tinha jeito, o jovem índio parecia incansável e a sua caçada se intensificava cada vez mais, ao ponto de a Dona Cascavel desistir de se esconder e resolver enfrentá-lo de uma vez. 

E foi assim, que ao meio-dia nas margens do rio, ocorreu o esperado encontro da Dona Cascavel com o filho do cacique: 

- Até que enfim te encontrei! – gritou Peri para a Dona Cascavel – a última cascavel que ainda mora nesta mata. Só preciso do seu chocalho e te deixarei em paz. 

Quando Peri se preparava para apanhar a Dona Cascavel, ela revidou com um bote, conseguindo escapar do jovem. 

- Não vou te dar o meu chocalho. – Retrucou a Dona Cascavel para Peri – levei tanto tempo para formar este belo chocalho com as minhas trocas de pele, não vou perdê-lo por causa do seu casamento, arrume outro presente que prove a sua coragem. Meu chocalho não é troféu. 

- Não preciso provar a minha coragem. – disse Peri. – Eu já provei a minha bravura com as inúmeras vitórias que conquistei para a tribo, só preciso mesmo, é encontrar um presente que impressione o pajé e acontece que ele gosta muito do som do seu chocalho. 

- Mas e a conversa que eu ouvi de dois índios da sua tribo? – perguntou a Dona Cascavel. – eu descansava debaixo de um tronco velho, quando fui acordada pela conversa de dois índios, sobre o filho do cacique ter que provar a sua coragem, presenteando a filha do pajé com um chocalho de cascavel. Como você explica isso? 

- Não tem nada a ver, isso é fofoca. Eu sou o filho do cacique, conhecido como o melhor guerreiro da minha tribo, não devo prova de coragem a ninguém. Você que caiu em uma fofoca. – explicou Peri para a Dona Cascavel. 

- Desculpe, não foi a minha intenção duvidar da sua coragem. – disse a Dona Cascavel. – só quero encontrar uma solução que salve o meu chocalho. Quem sabe eu possa te ajudar, a encontrar um presente para o pajé, se ele gosta tanto do som do meu chocalho, podemos conseguir fazer um para ele, que produza um som parecido com o meu. 

E foi assim, que com ajuda do seu amigo macaco e da coruja, que a Dona Cascavel conseguiu confeccionar um chocalho, feito com coco e sementes e ainda teve a participação das araras que ajudaram a enfeitá-lo doando algumas penas. 

O filho do cacique, levou o chocalho confeccionado pela Dona Cascavel como presente ao pajé, que amou a novidade e passou a usá-lo nas suas pajelanças. E é claro, também foi usado para animar a festa de casamento de Peri e Rani. 

E a Dona Cascavel pode finalmente descansar no meio da tarde, sem medo de perder o seu chocalho e sem se preocupar com fofocas. 

 


Marina Tanzi

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