Ouça a lenda no podcast: A Lenda do Chocalho
Era uma vez, uma cobra cascavel que morava no meio da floresta.
Diferente das demais serpentes, a Dona Cascavel, como gostava de ser chamada,
era conhecida pelo seu chocalho que ficava na ponta da sua cauda.
Quando a Dona Cascavel estava brava, ela balançava a sua cauda, agitando
o chocalho que alertava a bicharada:
- Eita! Hoje a Dona Cascavel está irritada. – Disse o macaco. – Cuidado
pessoal, pois com o mau humor da Dona Cascavel ninguém pode.
- E por que será que Dona Cascavel está de mau humor? – Perguntou a
Coruja.
Acontece que a Dona Cascavel gosta de tirar uma soneca no meio da tarde,
para a noite estar descansada e caçar comida. Eis que naquele dia, enquanto ela
dormia debaixo de um tronco velho no meio da mata, o seu cochilo foi
interrompido por dois índios que se sentaram em cima do tronco para
conversar.
Contrariada, a Dona Cascavel preparou o bote para afugentar os dois
índios que atrapalharam o seu descanso, mas o assunto da conversa deles era tão
interessante que fez a Dona Cascavel desarmar o bote para escutar a fofoca.
- Peri, o filho do cacique, está apaixonado pela Rani, a filha do
pajé. – Disse um dos índios. – Mas mesmo sabendo que os dois estão apaixonados
um pelo outro, o pajé só aceita o casamento se Peri provar a sua coragem
oferecendo um chocalho de cascavel como presente para Rani.
Esta fofoca deixou a Dona Cascavel pasma com a possibilidade do seu
chocalho virar um presente de casamento. E para piorar a sua situação, a Dona
Cascavel era a única cascavel presente naquela região, já que o seu mau humor
afugentou os seus parentes para bem longe dali.
- Estou encrencada! – Respondeu a Dona Cascavel para a Coruja. – O filho
do cacique quer presentear a filha do pajé com um chocalho de cascavel e
acontece que a única cascavel morando nessa mata sou eu.
- Lamentável Dona Cascavel, lamentável! – Desabafou a coruja. – As suas
únicas opções são fugir ou se esconder. O filho do cacique é um dos melhores
guerreiros da tribo. A senhora está mesmo bem encrencada.
- Me ajudem! – pediu a Dona Cascavel – Não quero fugir desta mata,
preciso da ajuda de vocês para me esconder do filho do cacique.
A coruja e o macaco, concordaram em ajudar a Dona Cascavel a se
esconder. A convidaram para morar no alto da árvore, junto com eles, pois seria
um local pouco provável para o filho do cacique a procurar. Porém, acostumada a
viver rastejando pelo chão, a Dona Cascavel não se deu bem com a nova
casa.
- Já que a Dona Cascavel não consegue morar conosco no alto da árvore, o
jeito É montar um esquema de vigilância. Vou combinar com os demais macacos e
avisamos você, quando o filho do cacique aparecer na mata, para te caçar. –
disse o macaco para a Dona Cascavel.
Satisfeita com A vigilância dos macacos, a Dona Cascavel ficou mais
calma com a situação, porém não demorou muito para que Peri, o filho do
cacique, começasse a procurá-la pela mata.
Avisada pelos gritos dos macacos, a Dona Cascavel vinha conseguindo se
esquivar do filho cacique, mas essa caçada já estava a deixando cansada. A Dona
Cascavel não via hora de o jovem índio desistir do seu chocalho e procurar
outra maneira de provar a sua coragem ao futuro sogro.
Mas não tinha jeito, o jovem índio parecia incansável e a sua caçada se
intensificava cada vez mais, ao ponto de a Dona Cascavel desistir de se
esconder e resolver enfrentá-lo de uma vez.
E foi assim, que ao meio-dia nas margens do rio, ocorreu o esperado
encontro da Dona Cascavel com o filho do cacique:
- Até que enfim te encontrei! – gritou Peri para a Dona Cascavel – a
última cascavel que ainda mora nesta mata. Só preciso do seu chocalho e te
deixarei em paz.
Quando Peri se preparava para apanhar a Dona Cascavel, ela revidou com
um bote, conseguindo escapar do jovem.
- Não vou te dar o meu chocalho. – Retrucou a Dona Cascavel para Peri –
levei tanto tempo para formar este belo chocalho com as minhas trocas de pele,
não vou perdê-lo por causa do seu casamento, arrume outro presente que prove a
sua coragem. Meu chocalho não é troféu.
- Não preciso provar a minha coragem. – disse Peri. – Eu já provei a
minha bravura com as inúmeras vitórias que conquistei para a tribo, só preciso
mesmo, é encontrar um presente que impressione o pajé e acontece que ele gosta
muito do som do seu chocalho.
- Mas e a conversa que eu ouvi de dois índios da sua tribo? – perguntou
a Dona Cascavel. – eu descansava debaixo de um tronco velho, quando fui
acordada pela conversa de dois índios, sobre o filho do cacique ter que provar
a sua coragem, presenteando a filha do pajé com um chocalho de cascavel. Como
você explica isso?
- Não tem nada a ver, isso é fofoca. Eu sou o filho do cacique,
conhecido como o melhor guerreiro da minha tribo, não devo prova de coragem a
ninguém. Você que caiu em uma fofoca. – explicou Peri para a Dona
Cascavel.
- Desculpe, não foi a minha intenção duvidar da sua coragem. – disse a
Dona Cascavel. – só quero encontrar uma solução que salve o meu chocalho. Quem
sabe eu possa te ajudar, a encontrar um presente para o pajé, se ele gosta
tanto do som do meu chocalho, podemos conseguir fazer um para ele, que produza
um som parecido com o meu.
E foi assim, que com ajuda do seu amigo macaco e da coruja, que a Dona
Cascavel conseguiu confeccionar um chocalho, feito com coco e sementes e ainda
teve a participação das araras que ajudaram a enfeitá-lo doando algumas penas.
O filho do cacique, levou o chocalho confeccionado pela Dona Cascavel
como presente ao pajé, que amou a novidade e passou a usá-lo nas suas
pajelanças. E é claro, também foi usado para animar a festa de casamento de
Peri e Rani.
E a Dona Cascavel pode finalmente descansar no meio da tarde, sem medo
de perder o seu chocalho e sem se preocupar com fofocas.